segunda-feira, 2 de março de 2015

Mídia - Parte 1 - Rádio e TV no Brasil



Curso: Publicidade & Propaganda
Turma: 5º e 6º Semestres
Disciplina: Mídia
Tema: Rádio – o pioneiro na comunicação de massa no Brasil

Data: 03/2015

Profª Talita Godoy





Breve histórico do rádio e da TV no Brasil



O rádio chegou ao Brasil na década de 1920. No primeiro centenário da Independência, em 7 de setembro, de 1922, foram realizadas festas no Rio de Janeiro e também foi organizada uma exposição com estandes de vários países. A empresa norte-americana Westinghouse Eletric participou do evento, apresentando com os seus equipamentos a oportunidade de se montar uma emissora de rádio.

Além disso foram colocados 80 aparelhos  receptores, nas principais praças públicas do Rio de Janeiro, para transmitir o discurso do presidente Epitácio Pessoa. O áudio chegou a Petrópolis, Niterói e até São Paulo. Embora o som fosse um pouco distorcido, o público ficou fascinado com a demonstração do novo meio que falava e tocava música.  

A estação criada para o evento ficava no Corcovado, e depois da exposição começou a ser desmontada. Ao saber disso, o médico e professor Edgar Roquette Pinto negociou para que o governo passasse a fazer do rádio o difusor da cultura, da educação, do lazer, enfim, do desenvolvimento do povo, já que, independentemente do grau de instrução das pessoas, o meio facilitava a divulgação de informação.

No ano seguinte, em 20 de setembro de 1923, o próprio Roquette Pinto inaugurou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, primeira emissora a estabelecer uma programação constante. A Rádio clube de Pernambuco também já estava no ar, mas esporadicamente.

Em junho de 1924, surgiu a primeira concorrente da Rádio Sociedade, a rádio Clube do Brasil, que transmitia às segundas, quartas e sextas-feiras, enquanto a Rádio Sociedade levava ao ar seus programas às terças, quintas e sábados. Nos domingos, as rádios ficavam fora do ar.

Não foi fácil para o rádio se tornar popular. O preço dos equipamentos era caro, tanto para o ouvinte como para quem queria montar uma emissora. Também não havia gente com experiência em montar programação.



Propaganda e notícia

Quando o rádio chegou ao Brasil, jornalismo e publicidade usavam nesse veículo basicamente uma só linguagem. No mesmo tom em que era dada uma notícia, o locutor apresentava os anúncios.

Assim, a propaganda nem era considerada “propaganda”, porque eram feitos apenas agradecimentos às firmas e às pessoas físicas que tinham contribuído financeiramente para a manutenção da emissora. Noutras vezes, havia a leitura dos classificados publicados nos jornais, sem adaptação do texto à nova mídia. O mesmo acontecia com as notícias dos jornais. Elas não eram restritas para serem lidas no rádio.

O pouco que se fazia para dar àquela mensagem a ideia de um formato radiofônico era impostar a voz. Os locutores, com timbres graves e pronúncias carregadas de letra “r”  ressonante, chamavam atenção do ouvinte.

À época, as pessoas sentavam-se sozinhas ou com a família toda para acompanhar a programação da rádio. Nas emissoras trabalhavam como redatores intelectuais do gabarito de Guilherme de Almeida e Menotti Del Picchia – este, um dos expoentes da Semana de 22.



Ganhando força

Foi nos anos 1930 que o rádio ganhou força. O governo criou uma comissão técnica ligada ao Ministério da Educação, para avaliar o valor do meio. Em 1931, através do Decreto n. 20.047, autorizou e regulamentou a propaganda em rádio.

O primeiro sinal de propaganda no rádio surgiu logo no início da década, mas é claro que não era conhecido dessa forma. Eram textos de mulheres que se ofereciam para trabalhar nas casas de família, como amas-secas e cozinheiras, ou anunciando que aceitavam encomendas de doces para festas e casamentos. 


Foi nesse período, também, que as emissoras começavam a se preocupar com a programação e com a redação dos textos. Um exemplo foi a Rádio Record de São Paulo, comandada por Paulo Machado de Carvalho, que criou a apresentação de “quarto de hora”. A cada 15 minutos, a transmissão mudava de gênero, intercalando música, informação e humor. A novidade passou a servir de modelo para as demais emissoras.

No Rio de Janeiro, com o objetivo de vender aparelhos e difundir sua marca, a Philips criou uma rádio com o próprio nome. Ademar Casé, um dos vendedores mais experientes da empresa, comprou dois horários e passou a ter, a partir de fevereiro de 1932, o Programa do Casé.

Na época, eram comuns intervalos sem som. A emissora ficava silenciosa, como se houvesse saído do ar, enquanto se preparava a produção ou a mudança de programa. Casé foi o primeiro a introduzir a programação totalmente sonorizada no Brasil, a exemplo da BBC de Londres, da qual era ouvinte. 


O programa crescia a cada dia, conquistando grande audiência e anunciantes. Passou, então, a ter um elenco espetacular com Noel Rosa, Carmem Miranda, Haroldo Barbosa, entre outros. Fazia parte da equipe alguém que reunia qualidades importantes para a sobrevivência do programa: Henrique Foréis Domingues, o Almirante, um profissional que era locutor, produtor, humorista e ainda o responsável pela administração. 


Vozes do rádio

Almirante teve passagens por outras emissoras e criou uma série de atrações, como o Campeonato Brasileiro de Calouros O Incrível, Fantástico, Extraordinário, que contava histórias sobrenaturais. 

Outro nome importante na Rádio Philips foi Renato Murce. Ele criou diversos programas, a exemplo de Horas do Outro Mundo, transmitido três vezes por semana, das nove às dez da noite. 


Merece destaque, também, entre as vozes do rádio, o pioneiro da narração de ma partida de futebol inteira. Nicolau Tuma, em 1931. Até então, eram apresentados na emissora apenas boletins informando os principais lances. Nicolau explicou no ar, para melhor entendimento dos ouvintes, as regras do jogo, e detalhou o que se passava em campo sem parar de falar. Foi por isso que ele recebeu o apelido de “locutor metralha” ou “speaker metralhadora”.

O rádio abriu espaço, ainda, para a dramaturgia, atraindo o público feminino. Passou a ser o amigo diário da dona de casa, nas suas tardes, quando as tarefas do lar tornavam-se mais leves. 


Cesar Ladeira foi responsável pelo setor artístico da Rádio Mayrink Veiga, foi ele quem montou o cast da emissora. Uma das principais apresentações teatrais da Mayrink foi O Conde de Monte Cristo. Depois o gênero espalhou-se por todas as emissoras. Em busca da felicidade é considerada a primeira radionovela a ir ao ar em capítulos.

Os artistas possuíam vozes características. O timbre definia a personagem, dava dica da sua personalidade, se era uma pessoa sofredora, meiga ou má, por exemplo. O galã ganhava a voz segura, confiante, a vilã uma voz mais rouca, sensual. Foram muitos os galãs e mocinhas do rádio brasileiro. 


As cantoras do rádio fizeram muito sucesso, embalaram os ouvintes e ajudaram a difundir a música, da erudita à popular. 


A solista Anita Gonçalves foi a primeira, ficando conhecida como “A voz de veludo”. Elisinha coelho era “O pássaro cantor” e Carmem Miranda despontou como a primeira grande representante da música popular brasileira.


Em 1947, Emilinha Borba foi eleita pelos marinheiros a “Favorita da Marinha”. No mesmo ano, Linda Batista conquistou o título de a “Rainha do Rádio”, em votação dos diretores das emissoras cariocas. Ela é oficialmente a primeira rainha do rádio. Em 1951, Dalva de Oliveira alcançou o mesmo status num concurso da Rádio nacional do rio de Janeiro, com 311 mil votos. 


Os cantores masculinos também ganharam títulos nobres. Vicente Celestino era “A voz Orgulho do Brasil”. Francisco Alves era considerado “O príncipe dos cantores brasileiros”. Orlando Silva, “O cantor das multidões”, e Sylvio Caldas, “O Seresteiro”.



O rádio e a TV

 O rádio foi a mídia dos anos 1930 por excelência e chegou ao apogeu nos anos 1940, sua “Época de Ouro”. Nesse tempo, os ouvintes passaram a ter suas emissoras, locutores e programas preferidos. 


Surgiu, então, a segmentação do público do rádio, o que foi de grande utilidade para as agências publicitárias já existentes na época: J. Walter Thompson e McCann Erickson. A partir daí, foi possível identificar textos escritos de forma diferente para jornalismo e publicidade. 


Os reclames ganharam sonorização e efeitos para atrair mais a atenção do ouvinte e estimular o consumo daquele produto. Além disso, alguns anunciantes começaram a patrocinar com exclusividade programas de grande audiência.

Não existia, porém, mediação do número de ouvintes, mas era possível avaliar a popularidade de um programa e até mesmo de um locutor ou artista pelas cartas recebidas nas emissoras. 


A Rádio Nacional AM do Rio de Janeiro, que por muitos anos foi a emissora mais ouvida do Brasil, fez essa constatação, por exemplo, na estreia da primeira radionovela brasileira, em 5 de unho de 1941. O locutor recebeu, sem nenhum concurso ou promoção, 48 mil cartas de ouvintes. 


O sonho

Participar de uma novela, na produção, direção ou roteiro, passou a ser o sonho de muitos profissionais da época. As próprias emissoras mantinham elenco de artistas contratados não só para a dramaturgia, mas para musicais e programas humorísticos.


A realidade

As grandes marcas da época, entre elas Coca-Cola, Gessy Lever, Kolynos, Sidney Ross e Goodyear, começaram a patrocinar ou criar os próprios programas. A Standard Propaganda montou um estúdio completo de produção e gravação de novelas para seu cliente Colgate-Palmolive. 


Quanto maior era a empresa anunciante, mais respeito a emissora e a atração conquistavam.Um exemplo disso foi o Repórter Esso, um dos principais noticiários do rádio brasileiro. O informativo, criado em 1941, tinha o nome da marca patrocinadora, a Standard Oil Company of Brazil, conhecida como Esso do Brasil. 


O radiojornalismo

O radiojornal foi criado para informar sobre a Segunda Guerra Mundial. Ele trazia notícias da United Press Internacional e, portanto, carregava a influência americana nas informações.Terminada a guerra, o programa continuou porque tinha grande audiência, e o nome “Esso” associado a notícias tornou-se familiar para os brasileiros.  

O radiojornal ganhou fama de ser “o primeiro a dar as últimas, testemunha ocular da história”, e tamanho era o respeito da população a esse informativo que havia se tornado muito comum as pessoas só acreditarem em uma notícia depois de ouvi-la no Repórter Esso


O rádio e a TV

Tudo parecia perfeito e inabalável quando, em 1950, outra caixa de madeira chegou para revolucionar a comunicação. E, além do som, ela carregava outra arma muito poderosa para atrair o público: a imagem. A TV passou a ocupar espaço na sala dos brasileiros e mudou o curso da expansão radiofônica. 

O Brasil foi o quarto país no mundo a ver televisão. Para colocar a TV Tupi PRF3 no ar, Assis Chateaubriand fechou contratos com empresas e financiou os retransmissores.



A propaganda na TV

No início a produção era amadora e copiava muito do que se fazia no rádio. Os profissionais brasileiros não tinham experiência de produção de imagens porque, ao contrário do mercado americano, não havia aqui tradição de produção cinematográfica.  

Os anúncios da época eram feitos ao vivo, em slides, com cartazes pintados à mão e com as famosas garotas-propaganda, muitas vindas do rádio.

Elas sabiam falar ao microfone, mas não possuíam qualquer intimidade com as câmeras. Mesmo assim, algumas se destacaram, como Neuza Amaral, escolhida Miss Propaganda em 1957, não pela beleza, mas pela capacidade de improvisar textos para televisão.

Os anúncios da época eram feitos ao vivo, em slides, com cartazes pintados à mão e com as famosas garotas-propaganda, muitas vindas do rádio.

Elas sabiam falar ao microfone, mas não possuíam qualquer intimidade com as câmeras. Mesmo assim, algumas se destacaram, como Neuza Amaral, escolhida Miss Propaganda em 1957, não pela beleza, mas pela capacidade de improvisar textos para televisão.

Os redatores das agências de propaganda acompanhavam nas emissoras os ensaios e as cenas dos comerciais ao vivo. Os grandes departamentos de rádio das agências de propaganda logo se transformaram em departamentos de rádio e televisão. O número de agências de propaganda subiu de 101 para 180, multiplicando os investimentos publicitários, que passaram a ser redistribuídos para o novo meio. Os custos de propaganda ficaram mais elevados.

Nessa época, os profissionais de mídia das agências eram simples negociadores de descontos, porque não dispunham de instrumentos técnicos para avaliar o alcance da TV. As negociações eram verdadeiras discussões, nas quais cada um procurava aumentar ou reduzir os valores dos comerciais, inclusive blefando informações.

As marcas, os artistas, os programas e até o principal radiojornal brasileiro, foram para  a televisão. Atrações como Teatro Walita, Mapping Movietone (jornalismo), Sabatinas maisena Patrulheiros Toddy seguiram a mesma tendência e tiveram muito sucesso. Com essa avalanche de novidades, o rádio entrou em crise.



Inovação

A TV foi a novidade, coube ao rádio o caminho da inovação. O rádio descobriu que podia ter agilidade, e as emissoras começaram a criar repórteres que falavam diretamente do local dos acontecimentos. Já a TV tinha dificuldade para adotar esse modelo, porque dependia de muito mais equipamentos de transmissão.

O rádio passou a ser mais eclético, acompanhando a segmentação de público e irradiando programas de acordo com os hábitos e graus de interesse dos ouvintes, tudo detectado por meio de pesquisas. A programação passou a ser segmentada, focando em públicos distintos, de acordo com sexo, faixa etária ou classe social.

A programação de uma rádio deve ser atraente para garantir a fidelidade do público e conquistar novos ouvintes. Para isso é preciso selecionar música, locução, notícia, prestação de serviço e outros formatos radiofônicos pensados para um público definido.


Público e conteúdo

O produtor executivo da emissora, diretor ou gerente de propaganda (cada empresa escolhe um nome para o cargo) faz um esforço constante para verificar se o conteúdo produzido está interessando ao público. Ele deve estar manter-se informado sobre a audiência de toda a faixa horária e de cada programa individualmente.

Diante desse resultado e da venda de comerciais, caberá a ele avaliar se o objetivo da rádio está sendo atingido, qual é o diferencial da emissora em relação à concorrência e se há necessidade de mudança na grade. As alterações podem ser feitas no formato dos programas ou mesmo trocando os profissionais da emissora. 

É preciso observar que somente a grande audiência não garante anunciantes.

Um público muito abrangente dificulta a definição de seu perfil. Já a segmentação dos ouvintes facilita a análise e a montagem da programação pela emissora, o trabalho de pesquisa de campo, a divulgação e a produção de conteúdo.

Pesquisas psicográficas, que analisam o consumidor de forma mais abrangente, ajudam a traçar o perfil do ouvinte. Esses estudos apontam o estilo de vida a personalidade, os valores, as afinidades pelas quais a pessoa pode ser levada a um envolvimento com produtos, marcas ou serviços.

As avaliações psicográficas estão presentes nos Estudos Sizen do Instituto Marplan e TGI do Ibope, abrangem as nove principais cidades do país e são editadas regularmente com disponibilidade para o mercado de veículos de comunicação, anunciantes e agências de publicidade.



Tipos de Programação


         All News: somente com notícias.


         Eclética: toca todos os ritmos. Leva ao ar notícias, entretenimento e prestação de serviços.


         Musical e de lazer: voltada para os sucessos musicais e de programação cultural.


         Religiosa: para segmentos religiosos específicos, como católicos e evangélicos.


         Educativa / cultural: abre espaço para cultura mais ampla e alternativa, não se restringe ao show business e à cultura de massa.


         Jovem: dinâmica, com músicas e programas de entretenimento para o público jovem.


         Adulto-contemporânea: com músicas nacionais e/ou internacionais e notícias voltadas ao público com mais de 30 anos.


         Comunitária: divulga a cultura, o convívio social e eventos locais da comunidade. Noticia os acontecimentos comunitários e de utilidade pública, promove atividades educacionais e outras para melhoria das condições de vida da população local.



Veiculação comercial no rádio


         Comercial avulso: são inserções colocadas nos intervalos comerciais, normalmente com 30 segundos. As tabelas das rádios também vendem variações de tempo de 15, 45 e 60 segundos.


         Comercial determinado: é o anúncio com horário de veiculação previamente acertado no contrato, com entradas em faixas horárias de programação ou programas específicos.


         Comercial rotativo: são veiculações que ficam com o horário de transmissão a critério da emissora. Podem compreender faixas diurnas ou noturnas, mas nunca um horário específico. 


         Testemunhal: é quando o próprio comunicador da emissora fala das qualidades e diferenciais do produto. É um estilo de contato com o ouvinte de grande credibilidade porque o locutor pode dar o seu aval à qualidade do produto. É um comercial preferencialmente ao vivo. O tempo de duração é maior, normalmente com 90 segundos.


         Ação de Merchandising: no rádio, tem uma dimensão de testemunhal, mas não é feita pelo próprio locutor. Existem pessoas especializadas em ações de merchandising que percorrem várias emissoras, no mesmo dia, sempre fazendo a locução no formato testemunhal.


         Infomercial: é, como o próprio nome já diz, o resultado da junção de informação com comercial. A mensagem parece uma notícia, mas deve deixar claro que se trata de um informe publicitário. Tem duração mais longa, chegando a 3 minutos.


         Campanhas institucionais: são uma forma de vincular a marca, por exemplo, a campanhas de utilidade pública. São feitos spots em defesa de algum tema, como combate ao tabagismo, proteção ao meio ambiente. As mensagens são finalizadas com a assinatura ou slogan do anunciante.


         Promoções externas: são atividades que levam a rádio às ruas. Exemplo dessas ações são as “peruinhas” ou “pedágios”promovidos pelas emissoras. Os carros e equipes das rádios são colocados  em pontos estratégicos das cidades fazendo alguma promoção. É uma oportunidade de difundir a marca na programação da emissora e no contato externo com o público.


         Cross media: é a propaganda feita em várias plataformas de comunicação. Como colocar anúncio no ar, nas ruas, e no site da rádio, negociando num só pacote comercial.  
  

         O patrocínio inclui programas ou eventos. O anunciante compra o pacote de inserções que envolvem todo o programa patrocinado. Sua marca aparece na abertura, no encerramento e em intervalos. Originalmente era exclusivo, pois não existia a presença de nenhuma outra marca nos comerciais, mesmo que não fosse concorrente patrocinador. Diante do alto custo desses pacotes, surgiram os patrocínios por cotas, que envolvem vários anunciantes, não sendo recomendado mais que quatro cotistas.



SITES DE CONSULTA



         Associação Brasileira de Anunciantes:

            www.aba.com.br

         Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão: www.abert.com.br

         GM – Grupo de Mídia: www.gm.org.br

         GRP – Grupo dos Profissionais do Rádio

            www.gpradio.org.br

         Ibope: www.ibope.com.br

         Ipsos/Marplan: www.ipsos.com.br


         Projeto Inter-Meios: www.projetointermeios.com.br

         Teleco Informação e Serviços de Telecomunicações Ltda: www.teleco.com.br 






REFERÊNCIA


PAULA, Amadeu Nogueira de; KENNEDY, Roseann. Jornalismo e publicidade no rádio: como fazer. São Paulo: Contexto, 2013.  








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Análise da Música "Admirável Gado Novo" (Zé Ramalho)

Curso: Publicidade e Propaganda
Turma: 5º e 6º Semestres
Disciplina: Tópicos Avançados em P&P
Data: 06/03/2015
Profª Talita Godoy


INTRODUÇÃO

O artigo abaixo foi escrito em 2007, por José Edson Ferreira Lima, então estudante de Letras e professor de Língua Portuguesa, no Piauí. O autor apresenta uma análise da letra da música “Admirável Gado Novo”, de Zé Ramalho, que foi citada em sala de aula ao falarmos sobre a alienação provocada pelos meios de comunicação de massa. Ao mesmo tempo em que a indústria cultural produz arte, entretenimento enriquecedor e seleto, ela também está sob o domínio do capitalismo que chega a fazer tanto mal para a chamada massa brasileira. Ou mais, talvez ela seja o mais poderoso instrumento de poder do capitalismo! Como financiadores desse movimento capitalista, é importante saber com o que estamos lidando e até que ponto queremos ir, ao passo em que é preciso ter plena ciência do tanto que nos deixamos dominar pelos meios de massa, a ponto de não sermos como gados marcados. Qual a diferença? O artigo abaixo procura responder algumas dessas questões. O link para busca do original e consulta de artigos semelhantes, encontra-se no final desta postagem. 

A DENÚNCIA SOCIAL NA MÚSICA "ADMIRÁVEL GADO NOVO" DE ZÉ RAMALHO: OS MECANISMOS MASSIVOS DE ALIENAÇÃO

Admirável Gado Novo
Zé Ramalho

Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro,
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber,
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer,
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer.
Ê, vida de gado...Povo marcado,Povo feliz...
Lá fora faz um tempo confortável,
A vigilância cuida do normal;
Os automóveis ouvem a notícia,
Os homens a publicam no jornal,
E correm através da madrugada,
A única velhice que chegou;
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou.
Ê, vida de gado...Povo marcado,Povo feliz...
O povo foge da ignorância,
Apesar de viver tão perto dela,
E sonham com melhores tempos idos,
Contemplam essa vida numa cela,
E esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar;
A Arca de Noé, o dirigível
Não voam nem se podem flutuar.
Ê, vida de gado...Povo marcado,Povo feliz...


Zé Ramalho é um músico intenso. Sua poesia é profundamente nordestina e, ao mesmo tempo universal, pois gira em torno de questões que intrigam o ser humano de uma forma geral. Sua música está recheada de citações às suas próprias experiências pessoais: movimento hippie, a batalha pelo pão, a necessidade de arranjar dinheiro, a procura de uma experiência mística, a tristeza de um amor impossível, etc. Com letras impactantes, a maioria delas de caráter místico e social, constituiu-se num cantor eclético atingindo várias gerações. "Admirável Gado Novo" é um dos seus maiores sucessos.

Passaremos a analisar essa música de Zé Ramalho, composta no final dos anos 70, período da Ditadura Militar no Brasil, sob a ótica da Crítica Literária Marxista. Essa linha crítica "analisa a Literatura em termos das condições históricas que a produzem", envolvendo a luta de classes e tendo como objetivo a compreensão das ideologias presentes em qualquer obra literária. De acordo com Marx, o aspecto material da sociedade condiciona o social, o político e, o que mais nos interessa, o intelectual e artístico em geral, ou seja, as relações sociais de uma forma geral dependem necessariamente das relações de produção. Dessa forma ele define o conceito de infra-estrutura como as relações e forças de produção que são sustentadas, isto é, legitimadas por uma superestrutura "que assegura que a situação em que uma classe social tem poder sobre as outras seja vista pela maioria dos membros da sociedade como natural ou nem mesmo seja vista".
Para o Marxismo, a arte, e por conseqüência a Literatura, faz parte dessa superestrutura. No entanto, a Literatura, apesar de estar contida nesse aparato ou Ideologia que reflete os interesses da classe dominante, não é um "simples reflexo passivo da base econômica". Isso implica dizer que a Arte Literária está contida na Ideologia, mas não está presa a ela, pois consegue distanciar-se ou até ir de encontro à visão da classe dominante, como é o caso da obra em questão. A contracultura e as vanguardas são exemplos da força crítica que tem a Arte Literária, bem como do seu poder de denúncia social e de exposição e mimetização da realidade. Terry Eagleton assim se expressa sobre a arte literária, na concepção materialista de Marx:

A teoria materialista da história nega que a arte por si só possa mudar o curso da história, mas insiste em que ela pode constituir um elemento ativo dessa mudança. (1978: 22).

Assim temos em "Admirável Gado Novo" uma forte crítica social, tendo em vista que o Brasil passava por um dos períodos mais negros da sua história. Vemos expressados nela a luta de classes, tão discutida por Marx, e um aspecto imprescindível nesse contexto que é a manutenção desse modelo social através da alienação das massas, metaforizada na figura do gado.

Outrossim, Zé Ramalho compôs "Admirável Gado Novo" numa clara referência ao romance de ficção científica de Aldous Huxley "Admirável Mundo Novo". Escrito em 1932, este romance descreve uma sociedade hipotética do futuro onde as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem em harmonia com as leis e ordens sociais sem possibilidade de contestação e senso crítico. No entanto, nesse "futuro" criado por Aldous Huxley não há as regras sociais, éticas ou religiosas de hoje. Qualquer dúvida de algum habitante é dissipada com o uso de uma droga, sem efeitos colaterais chamada "soma".

Vemos assim uma sociedade controlada, condicionada a viver em uma ordem estabelecida através do conformismo. Outro aspecto importante é que nesse "Mundo Novo" não há princípios morais e éticos. O controle se dá somente através da droga "soma" que surge como a representação dos instrumentos alienatórios da nossa sociedade, entre eles os meios de comunicação de massa como a televisão. Não há espaço para o questionamento, pois a "droga" elimina todas as dúvidas e continua a direcionar, é claro, de acordo a ordem dominante. É um mundo "admirável", pois se apresenta como modelo exemplar de perfeição e ordem, contudo esconde as desigualdades e mazelas sociais.

Essa visão crítica transposta na obra huxleyana reflete a preocupação do autor, que viveu a maior parte dos anos 20 na Itália fascista de Mussolini, com a liberdade individual em detrimento ao autoritarismo tão bem retratado em sua obra-prima "Admirável Mundo Novo". Com certeza sua estada no país europeu o impeliram consideravelmente na composição desse livro.

Mas voltando à música em questão, já vimos de onde se originou seu título e ideia e como ela contém diversos elementos do pensamento marxista sobre a sociedade. Dessa feita passaremos a detalhar alguns aspectos importantes na compreensão de sua ideologia, que como já vimos vai de encontro à visão da classe dominante trazendo uma crítica social que a caracteriza como uma obra que, mesmo estando na superestrutura como diz Marx, não se propõe a legitimar a exploração de uma classe sobre as outras.

A exploração do homem pelo homem é um dos pontos fortes sobre o qual se fundamenta a análise marxista da sociedade. E nesse sentido a expressão "massa" aparece como um forte indicador do anonimato, do tratamento não individual, essencialmente coletivo que o Capitalismo impõe aos indivíduos. Representa a necessidade da produtividade, bem como aquilo de pouco apuro, reflexão e qualidade, dada a falta de acesso da "massa" à educação e ao conhecimento de uma forma geral.

Essa condição massificada gera o problema de "dar muito mais do que receber", característico do modo de produção capitalista que faz com que o trabalhador produza muito e receba pouco. No caso brasileiro, essa exploração se caracteriza desde o campo, com o trabalho semi escravo, à cidade, com as altas cargas de trabalho e a constante supressão dos direitos trabalhistas. Assim, temos o quadro lamentável da nossa estrutura de classes. Apesar disso o autor enfatiza a coragem da "massa", demonstrada "à margem do que possa parecer", na manifestação de um povo que sofre com o sistema, mas não perde sua alegria.

Outra consideração importante a fazer é a referência a "engrenagem" que "sente a ferrugem lhe comer". Tal expressão faz uso da metáfora e refere-se tanto à autodestruição do Capitalismo, pregada por Marx, quanto à derrocada do regime militar que vigorava no Brasil naquele período. Segundo o pensamento marxista, o Capitalismo carrega os germes de sua própria destruição, e seria suplantado pelo Socialismo onde os trabalhadores formariam uma sociedade baseada na propriedade coletiva dos meios de produção, pois, propõe a visão marxista, que todo sistema econômico traz no seu embrião as contradições que irão destruí-lo por meio da luta de classes.

Uma outra faceta digna de maior discussão é a metáfora do gado. Afinal, que semelhanças podemos depreender, pela ideologia do compositor, entre o "povo marcado" e o gado? De fato não haveria um ser melhor para representar a submissão e o conformismo do que o gado, que se deixa ordenhar, direcionar e guiar pelos seus "donos". A condição de manipulação e exploração a que se submete este animal ocorre desde a vida até a morte, na extração da carne para a alimentação humana.
A condição da classe dominada é semelhante, pois o aumento do lucro dos donos dos meios de produção é proporcional a degradação do trabalhador que quanto mais trabalha menos recebe. Além disso, existem mecanismos de alienação e direcionamento das massas para que essa situação de exploração não seja questionada ou sequer entendida. Tais mecanismos se constituem como importante instrumento da ordem estabelecida e favorecem àqueles que detêm o poder, pois onde não há contestação ou cobrança, a facilidade para o auto favorecimento, a corrupção e a impunidade é muito maior. A consequência disso é o agravamento da desigualdade social e de todos os demais problemas sociais. Antônio Gramsci define a alienação na ótica marxista dessa forma:

O homem, através da alienação torna-se estranho a ele mesmo; não se reconhece a si mesmo; o trabalho o tornou estranho; aquilo que produz lhe é estranho; a atividade tornou-se massificante, penosa, desgostosa por que ela tornou-se exclusivamente um meio de subsistência (2005: 15).

Temos uma massa que é manipulada ao bel prazer das grandes mídias, enquanto é guiada a caminhos que desconhece totalmente. Sob a justificativa de fugir dos problemas, assistindo a programas de baixa qualidade ou simplesmente recebendo sem questionar o que lhes é informado, acaba fugindo da realidade e adentrando num preocupante estado de alienação e descomprometimento social.

Outrossim, se levarmos em consideração a história do Brasil iremos observar que boa parte das decisões mais importantes do país (como a Independência e a Proclamação da República, por exemplo) não tiveram nenhuma participação das camadas mais pobres da sociedade, que ficaram à margem de todos esses acontecimentos.

A antiga tática romana do "Pão e Circo" é reinventada atualmente, porém mantendo o seu princípio de alienação através do binômio alimento/entretenimento. Os programas assistencialistas da atualidade, se trazem alguma ajuda, acarretam um enorme conformismo, transformando-se até mesmo em instrumento de promoção política. Aliado a isso nos deparamos com a mídia televisiva e fonográfica que, a pretexto de entreter, acaba por maquiar, esconder ou até deturpar a realidade, usando como instrumento a massificação dos seus produtos, onde a qualidade quase sempre é sacrificada em nome do rendimento financeiro. No caso da TV, encontramos um sem número de programas que em busca da audiência se prestam a expor exaustivamente a nova fórmula do IBOPE: Sexo e violência. Dessa forma, salvo raras e honrosas exceções, cumprem a função de componentes da superestrutura, dando um suporte imprescindível à manutenção da ordem estabelecida.

Levando em conta o contexto histórico em que se insere a música servi- nos lembrar que o Brasil vivia o auge da Ditadura Militar, período negro da nossa história em que milhares de intelectuais e oposicionistas foram perseguidos, mortos e exilados. Apesar disso, no início da década de 70 o país estava em êxtase devido à conquista da Copa do Mundo, fato amplamente utilizado como propaganda do Governo Militar de Garrastazu Médici. Acresce-se a isso o "Milagre Econômico", proporcionado pela invasão das multinacionais ao Brasil, e a forte propaganda do regime, levando a "massa" ao entorpecimento quase total.

É justamente aos donos do poder que encontramos fortes críticas, pois é para eles que "lá fora faz um tempo confortável", procurando cuidar do normal e manter a "ordem" das coisas. Em relação a isso, o autor faz uma menção simbólica à perseguição aos opositores do regime e a forma como esse sistema era mantido com o "gado" à margem da realidade da situação. É utilizando a arma do simbolismo, da metáfora, da duplicidade de sentido que Zé Ramalho empreende sua crítica a esse estado de coisas e aos que mantêm essa situação.

Essa condição de alienação e entorpecimento vivida pelo povo faz com que ele "contemple essa vida numa cela". Essa prisão nada mais é do que a ignorância, o assujeitamento, o conformismo que impossibilitam a visão crítica e transformadora da sociedade. Preso ao sistema e dirigido por vontades alheias, exatamente como o rebanho no curral.

No fim da música temos uma menção à religião, esta é caracterizada como uma fuga empreendida pelo povo em face dos problemas que vivencia: "E esperam nova possibilidade/ De verem esse mundo se acabar; / A arca de Noé, o dirigível...". Essa concepção sobre religião demonstrada pelo compositor assemelha-se ao pensamento marxista, pois na visão de Marx a religião é uma droga porque apazigua os ânimos do explorado impedindo-o de reagir à situação em que se encontra ao aceitá-la como natural. O próprio Marx assim se expressa sobre a religião:
O sofrimento religioso é, a um único e mesmo tempo, a expressão do sofrimento real e um protesto contra o sofrimento real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração e a alma de condições desalmadas. É o ópio do povo (1844: 5).

Diante de tudo o que foi exposto podemos dizer que, na tentativa de compreender sob a ótica da Crítica Marxista a ideologia da música "Admirável Gado Novo", constatamos que ela apresenta diversos aspectos do pensamento de Marx sobre a sociedade tais como a luta de classes, a exploração do homem pelo homem, a alienação e a religião. Além disso, observamos que existem na mesma obra elementos de crítica ao regime ditatorial do período em que ela foi composta. Entretanto, essa crítica transcende o contexto histórico do autor e chega ao Universalismo por atacar também o sistema capitalista. Enfim, é uma obra rica, de densidade social muito forte e que serve como alerta para que o "povo feliz" e "marcado" deixe de ter uma "vida de gado"


Fonte:

http://www.webartigos.com/artigos/a-denuncia-social-na-musica-quot-admiravel-gado-novo-quot-de-ze-ramalho-os-mecanismos-massivos-de-alienacao/2684/